segunda-feira, 21 de março de 2011

RN: um estado movido pela força dos ventos

Por Andrielle Mendes, de O Poti/Diário de Natal

Que os ventos soprem. A frase, dita pelo prefeito de Guamaré, Auricélio dos Santos Teixeira, durante inauguração da Usina de Energia Eólica Alegria 1, esconde, de certa forma, uma inverdade. Os ventos sempre sopraram por aqui. Mas só agora sua força foi transformada em energia, emprego e renda. Em sete meses, Guamaré ganhará o maior parque eólico da América Latina: o Alegria. Composto pelas usinas Alegria 1 e 2, gerará 10% de toda energia consumida no Rio Grande do Norte com capacidade suficiente para tornar a capital potiguar autosuficiente em energia elétrica.

Mas ainda é pouco comparado ao que está por vir. Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Benito Gama, até 2013, o investimento em energia eólica no RN chegará a R$ 8 bilhões, dinheiro suficiente para comprar quase 25 milhões de cestas básicas a R$ 331,89 - menor preço encontrado pelo Procon Natal na primeira semana de março - e alimentar milhares de potiguares que vivem na miséria.

Enquanto investidores veem uma grande chance de obter lucro na instalação dos parques eólicos no Rio Grande do Norte, Benito Gama enxerga uma chance de associar desenvolvimento econômico e social. Isso viria por meio do aluguel/arrendamento de áreas, principalmente no semi-árido potiguar; da arrecadação de tributos, como o ICMS; e da geração de emprego e renda.

Nos próximos anos, potiguares, com ou sem renda, assistirão a instalação de várias empresas estrangeiras no estado. Entretanto, eles poderão ficar a ver navios, ou melhor, turbinas, se o governo não agir. Para aproveitar a mão de obra local, o governo do estado vai criar um Centro de Tecnologia Internacional de Energia Eólica. O centro será montado em parceria com o governo federal e empresas do ramo eólico. As negociações já começaram. "O RN possui uma das melhores jazidas de vento do Brasil, e este é o principal combustível para o estado continuar liderando a implantação das centrais eólicas", afirma Everaldo Feitosa, PhD em Energia Eólica pela Universidade de Southampton, na Inglaterra e diretor da Eólica Tecnologia, uma das empresas controladoras do Parque Alegria.

No entanto, para liderar este processo, segundo Everaldo, o estado precisa melhorar sua infraestrutura. "Dois pontos merecem atenção. O primeiro é a infraestrutura de conexão elétrica. O segundo ponto é a organização do setor fundiário, que precisa da intervenção do governo estadual", revela o investidor que também é vice-presidente da WWEA (World Wind Energy Association, com sede em Bonn, Alemanha) e vice-presidente do WWEI (World Wind Energy Institute, com sede na Dinamarca), em entrevista ao Diário de Natal.

Superando estes obstáculos, o RN aproveitará todo seu potencial, equiparando-se a Dinamarca, país pioneiro em energia eólica e que possui aproximadamente 4 mil megawatts (MW) de capacidade instalada. O especialista explica que a Região Nordeste tem uma área equivalente a 36 "Dinamarcas" e possui um potencial de instalação de energia eólica de 144 mil MW, o que equivale a 1,5 vezes todo o parque gerador existente hoje no Brasil. A maior parte deste potencial está localizada no estado do Rio Grande do Norte.

Segundo projeções do especialista, o Brasil estará entre os cinco maiores produtores de energia eólica do mundo até o ano 2020. "O RN poderá liderar este processo se conseguir construir a infraestrutura elétrica necessária para o escoamento desta imensa quantidade de energia, através de novas linhas de transmissão e subestações. Esta deveria ser uma das prioridades do novo governo estadual, reivindicando estes investimentos por parte do Ministério de Minas e Energia", afirma.

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